A “briosa e fiel” São João del Rei.
Começaremos em 28 de agosto de 1881, quando D. Pedro II lança, no fértil Vale do Rio das Mortes, a semente de uma nova era, inaugurando a Estrada de Ferro Oeste de Minas. A locomotiva, partindo mansamente da “briosa e fiel” São João del Rei, atravessa paisagens bucólicas e pitorescas, deslizando sobre os trilhos em direção à Estação do Sítio (hoje Antônio Carlos), localizada bem à sombra da Serra da Mantiqueira.
(A pintura de R. Walsh mostra São João del Rei em 1829). |
Os tempos estavam mudando. Por todo o florescente Vale do Rio das Mortes nascera um firme desejo de expandir a lavoura e de instalar novas indústrias. Somente abrandava este desejo a perspectiva da falta da mão-de-obra, uma vez que as campanhas abolicionistas já acendiam, nos corações escravos, a justa chama da liberdade.
Temendo a redução ou mesmo perda do braço escravo, fazendeiros paulistas abastados levantam então suas vozes, clamando pela vinda do imigrante. E este clamor se fez ouvir nos rincões da longínqua Itália, onde o povo e principalmente o agricultor menos afortunado, vivia subjugado por uma situação político-econômica tristonha e de perspectivas obscuras.
Assim, por iniciativa desses fazendeiros, incentivados pelo Governo Imperial, começaram a chegar ao Brasil os primeiros imigrantes, principalmente do norte da Itália, as regiões mais atingidas pela crise. As montanhas e colinas das províncias venetas, lombardas e trentinas, assistem impotentes a despedida de seus filhos, que saem na esperança de voltar...
Foram espalhando-se pelo Brasil, notadamente para São Paulo, Espírito Santo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina mas, atraídos por uma propaganda bem conduzida, começam aos poucos a vir para Minas Gerais. No Vale do Rio das Mortes, entretanto, o processo de sua fixação somente foi efetivamente iniciado com a fundação do Núcleo Colonial de São João del Rei, instalado pelo Dr. Armênio de Figueiredo na vasta e alegre Várzea do Marçal.
E este fato memorável modificou profundamente a vida da pacata São João Del Rei. Ao lado das modinhas e lundus surge a cançoneta; ao lado do aguardente surge o vinho; ao lado do arroz com feijão surge a polenta e contrastando com o bronzeado e a graça das brasileiras surge a alvura e beleza das italianas...
Aparece então o caldeamento das raças, gerando inúmeras famílias que se arraigaram na nossa terra e de onde sobressaíram vultos que se notabilizariam na Sociedade Brasileira.
Veremos, mais adiante, o desenrolar dos fatos ligados à fundação do Núcleo Colonial de São João del Rei. Antes, porém, visualizaremos, em linhas gerais, a situação da Itália e do Brasil no século XIX, polos do processo de emigração/imigração, com raízes profundas na formação social, cultural e étnica de nossa pátria.
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